terça-feira, julho 14, 2009
Fogo a Apresentar-se
que me mostro a quem me observa das alturas,
com este perfil afunilado e as mil e uma fissuras,
pois, visto assim dos ares, nunca tive outro rosto.
Pareço explosivo, mas não sou nenhum monstro!
Albergo uma gente afável, oriunda de mil culturas;
jacente em mim, um vulcão ergue-se nas alturas
e confere-me, além de estilo lapidar, egrégio posto.
Cobre-me, aqui, manto verde de árvores e sisais;
ali exibo as lavas e as terras e ribeiras ressequidas;
além, no negro chão, verdes videiras e muito mais;
Beijo o mar com beiços negros de areias aquecidas;
meus nobres sobrados são do colonialismo os sinais;
o vinho e o café atestam meu bom gosto nas bebidas.
sexta-feira, julho 10, 2009
Sou Um Pouco de Tudo
Sou as lavas do imponente vulcão;
Sou os pés de café lá das encostas;
Sou o verde efémero que cobre as rochas;
Sou o diversificado fruto das azáguas;
Sou a fé do pescador e do lenhador;
Sou a esperança incondicional do agricultor;
Sou os grãos de areia das praias negras;
Sou a simpatia do povo acolhedor;
Sou a voz do poeta que para criar,
Basta-lhe saber observar e descrever;
Sou a sombra daquele solitário coqueiro;
Sou a força dos braços tenazes do cabouqueiro;
Sou o âmago daquela gente lutadora;
Sou os “sobrados que sossobraram”,
Sou a peculiar arquitectura da cidade ditosa.
Sou aqueles meninos das famílias numerosas;
Sou o sonho do estudante e a instrução do letrado;
Sou a beleza da minha gente;
Sou o cantar dos pássaros e o berrar das cabras;
Sou a alegria e persistência dos pastores;
Sou a lenha que arde no lume da djagacida;
Sou o grão de feijão e o milho cochido da cachupa;
Sou o sol quente que faz brilhar os dias ardentes;
Sou o cantar do galo de manhãzinha;
Sou o sabor do vinho e a essência do café;
Sou as lágrimas carpidas de um filho ausente;
Sou a bazófia do emigrante e a humildade dos habitantes;
Sou a esperança de quem quer partir;
Sou a perseverança de quem, firme, fica;
Sou o próprio dilema de “ter que partir e querer ficar”;
Sou um ufano filho de Djarfogo,
Consciente e orgulhoso da sua origem.
Sou o “rafodju” das coladeiras
E o rufar de tambores das bandeiras;
Sou o ritmo talaia-baixo e das cantigas populares;
Sou o manduco de Pedro Cardoso
E o teor das obras de Teixeira de Sousa;
Sou a personificação de Djarfogo;
Sou o sisal das encostas e falésias;
Sou o negro escuro que reveste a ilha;
Sou o contraste característico da sua paisagem;
Sou aquele espírito de eterna partilha;
Sou a bela mestiçagem dos foguenses;
Sou tudo o que quiser
Na consciência do meu ser ousado,
No poder da criação foguense.
Sou as flores perfumadas das lindas praças da cidade;
Sou a serra e os montes e o pico do vulcão;
Sou o voo da passarinha e outras avezinhas;
Sou o suor dos trabalhadores, a paixão dos amores;
Sou o acordar madrugador;
Sou o lindo pôr-do-sol, a orgulhosa lua cheia;
Sou as muitas estórias dos mais velhos;
Sou o amor incondicional das mães pelos filhos;
Sou as raízes das árvores sedentas;
Sou as fartas festas das bandeiras…
Sou, por assim dizer, sem ou com nexo (sei lá!)
Um pouco de tudo do meu amado Djarfogo!