terça-feira, julho 14, 2009

Fogo a Apresentar-se

É neste tom negro, verde dum lado, árido doutro,
que me mostro a quem me observa das alturas,
com este perfil afunilado e as mil e uma fissuras,
pois, visto assim dos ares, nunca tive outro rosto.

Pareço explosivo, mas não sou nenhum monstro!
Albergo uma gente afável, oriunda de mil culturas;
jacente em mim, um vulcão ergue-se nas alturas
e confere-me, além de estilo lapidar, egrégio posto.

Cobre-me, aqui, manto verde de árvores e sisais;
ali exibo as lavas e as terras e ribeiras ressequidas;
além, no negro chão, verdes videiras e muito mais;

Beijo o mar com beiços negros de areias aquecidas;
meus nobres sobrados são do colonialismo os sinais;
o vinho e o café atestam meu bom gosto nas bebidas.

sexta-feira, julho 10, 2009

Sou Um Pouco de Tudo

Sou as lavas do imponente vulcão;

Sou os pés de café lá das encostas;

Sou o verde efémero que cobre as rochas;

Sou o diversificado fruto das azáguas;

Sou a fé do pescador e do lenhador;

Sou a esperança incondicional do agricultor;

Sou os grãos de areia das praias negras;

Sou a simpatia do povo acolhedor;

Sou a voz do poeta que para criar,

Basta-lhe saber observar e descrever;


Sou a sombra daquele solitário coqueiro;

Sou a força dos braços tenazes do cabouqueiro;

Sou o âmago daquela gente lutadora;

Sou os “sobrados que sossobraram”,

Sou a peculiar arquitectura da cidade ditosa.


Sou aqueles meninos das famílias numerosas;

Sou o sonho do estudante e a instrução do letrado;

Sou a beleza da minha gente;

Sou o cantar dos pássaros e o berrar das cabras;

Sou a alegria e persistência dos pastores;

Sou a lenha que arde no lume da djagacida;

Sou o grão de feijão e o milho cochido da cachupa;

Sou o sol quente que faz brilhar os dias ardentes;

Sou o cantar do galo de manhãzinha;

Sou o sabor do vinho e a essência do café;


Sou as lágrimas carpidas de um filho ausente;

Sou a bazófia do emigrante e a humildade dos habitantes;

Sou a esperança de quem quer partir;

Sou a perseverança de quem, firme, fica;

Sou o próprio dilema de “ter que partir e querer ficar”;

Sou um ufano filho de Djarfogo,

Consciente e orgulhoso da sua origem.


Sou o “rafodju” das coladeiras

E o rufar de tambores das bandeiras;

Sou o ritmo talaia-baixo e das cantigas populares;

Sou o manduco de Pedro Cardoso

E o teor das obras de Teixeira de Sousa;

Sou a personificação de Djarfogo;


Sou o sisal das encostas e falésias;

Sou o negro escuro que reveste a ilha;

Sou o contraste característico da sua paisagem;

Sou aquele espírito de eterna partilha;

Sou a bela mestiçagem dos foguenses;

Sou tudo o que quiser

Na consciência do meu ser ousado,

No poder da criação foguense.


Sou as flores perfumadas das lindas praças da cidade;

Sou a serra e os montes e o pico do vulcão;

Sou o voo da passarinha e outras avezinhas;

Sou o suor dos trabalhadores, a paixão dos amores;

Sou o acordar madrugador;

Sou o lindo pôr-do-sol, a orgulhosa lua cheia;

Sou as muitas estórias dos mais velhos;

Sou o amor incondicional das mães pelos filhos;

Sou as raízes das árvores sedentas;

Sou as fartas festas das bandeiras…


Sou, por assim dizer, sem ou com nexo (sei lá!)

Um pouco de tudo do meu amado Djarfogo!

sexta-feira, março 20, 2009

Pensar a Vida - Parte II

Bem, aqui estou eu para o post “Pensar a Vida – Parte II” (Obrigado pela sugestão OG! LOL). Ora a pensar na vida, a poucos dias do meu regresso a CV, vejo que realmente os laços criam-se e a vida está sempre na sua dialéctica, como um rio que corre sempre sem parar, desde que não seque, mas a água que corre nunca é a mesma. Bem laços fortes nascem, particularmente quando a vivência é no seio de estudantes, numa cidade pequena, de muita paródia, de muita “vida boa”, com muita propensão para amizade, conhecimentos variados e mais etc.. Agora as mudanças da vida nem sempre são as que a gente traz na expectativa. Digamos que começamos a familiarizar com uma realidade diferente da nossa e que, mesmo que de início, nos tenha parecido difícil de assimilar, acabamos por, efectivamente, ganhar muito dessa outra realidade e começamos mesmo a sentir que já não somos exactamente a mesma coisa, que já não temos em nós somente o que de início trouxemos connosco. Isto é bom, desde que o que tenha sido assimilado seja para nos enriquecer positivamente a nível cultural, de atitudes e afins… Porém pode ser mau quando acaba por apagar muito daquilo que devia permanecer na base do nosso orgulho cabo-verdiano. Portanto, é bom que se consiga conciliar a cultura que se traz com a que aqui ou ali se encontra e aproveitar o que é bom para a evolução da pessoa em si enquanto ser humano, salvaguardando sempre o que se pode chamar de “património” particular – digo aquilo que sempre teve e que foi adquirindo desde a nascença.

Chegar a Portugal para estudar foi de início uma mudança grande na minha vida, mas acabei por me habituar a isto, até certo ponto. Nos seis anos e tal da minha vida em Coimbra, muito aprendi e muito conheci, minha vida acabou por se cruzar com muitas outras vidas e eu, por partilhar muito das minhas vivências com pessoas de culturas diferentes. Ora daí uma ligeira alteração sempre surge, mesmo que insistamos em dizer que na verdade somos puramente o que sempre fomos. Torna-se assim inevitável a alteração da nossa identidade enquanto povo e também da nossa própria alteridade, aquilo que cada um de nós, com a identidade cabo-verdiana de todos, é particularmente. O que motiva essas mudanças todas? Ora, simplesmente um ambiente totalmente diferente, a vida que se leva por cá, a forma de ser moldável das pessoas, a nossa convivência insistente com mentalidades diferentes, os diálogos e discussões, a universidade, a “vida fora de casa”, as diferenças de opiniões, enfim… mil e uma coisas mais que sempre se põem nos nossos caminhos e a gente, não as contornando, enfrenta-as, entende-as e, já agora, assimila-as.

A ver vamos o impacto que isto terá no seio dos meus amigos em CV. A ver se, descuidadamente, não perdi algo que nunca devia ter perdido, se ainda sou aceito da mesma forma pelos meus na terrinha onde nasci, cresci e até me tornei homem. É claro que terei que me readaptar, pois há já quatro anos que não vou à terra e seis anos e poucos meses que estou ausente fisicamente da minha realidade. Creio que está tudo cá em mim, porque a realidade de Cabo Verde é indelével, mas muita coisa foi acrescentada, muita coisa foi alterada, muita coisa boa e, quiçá, sem querer, muita coisa vista como má ou pouco aceitável para os que não viveram uma outra realidade como ou parecida com esta.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Pensar a vida - Parte I

Quando a vida está para oferecer coisas boas, ela não mede quantidades, nem tamanhos… vai oferecendo. Mas quando ela resolve tirar de nós coisas que nos interessam e que amamos, ela fá-lo sem piedade, faz o saque e continua a andar como se nada tivesse acontecido. Ora, não sei por que estou a escrever isto, porém, sentei-me cá e comecei esta escrita. Não tenho muito a dizer e nem o tema me parece desconhecido, contudo não sei bem que escrever. Mas dane-se, vou escrevendo e acabo por encher esta folha e, quiçá, outra e mais outra.
Costuma-se dizer que a vida é bela, que ela concede alegrias, oportunidades, que nos guia da melhor forma, que nos oferece mil e uma coisas, dado à sua preciosidade. Todos sabemos que é numa só vida que adquirimos e perdemos tudo e que viver implica mesmo aproveitar as coisas boas da vida e tentar evitar ao máximo as coisas más e fazê-las passar ao lado. Tal não acontece sempre! Muitas das vezes as coisas más aparecem de surpresa para estragar os muitos momentos de bonança. Fazemos o nosso melhor para não termos que ver na nossa vida mais coisas más que boas, mas para muita gente a vida pouco sorri e o que mais lhe proporciona são as infindáveis amarguras, desassossego, desprazer, dissabores. O sofrimento destas pessoas é imenso e a sua vida é que patrocina tudo. Entretanto, nem por isso essas pessoas se suicidam ou deixam de perseguir os objectivos, continuam a sua luta para triunfar, vão dando o seu máximo para que tudo se ajuste da melhor forma. Pessoas como estas, que sofrem, que vivem problemas e mais problemas, mas que lutam muito e os ultrapassam sempre, são merecedoras de toda a nossa admiração e respeito. Tais pessoas vivem e experienciam as mais adversas situações, são confrontadas com as mais variadas complicações, contudo, por não se deixarem bater e por continuarem a enfrentar os desafios com ímpeto e determinação, elas quase sempre dão a volta por cima e preparam-se para as novas intempéries que na estrada da vida tanto podem estar localizadas nas curvas mais assombradas como nas rectas mais iluminadas, mas sempre de forma imprevisível.
Quando eu falo com pessoas que contam os seus problemas e que, sem se exibir, se referem à forma como conseguiram ultrapassá-los, sinto orgulho, sinto prazer de falar mais e mais, porque de repente a sua perseverança infunde em mim o desejo de lutar pelos meus objectivos, de perseguir os meus sonhos e de confiar que realmente muito do impossível que se incute em nós é bem possível com coragem, luta, fé em nós mesmos e vontade de alcançar o intangível. Não falo aqui de ninguém em especial. Entretanto, todos sabemos que a vida tem dessas coisas e que às vezes é preciso sofrer ou até perder muita coisa, para depois ganharmos deveras o que não está ao alcance do fraco, do conformista e do desistente.
Esta é portanto a minha mensagem de hoje para os meus amigos, para as pessoas que se queiram tocar, mas que, no entanto, ainda não foram avisadas ou motivadas com ousadia: levantem-se e vão à luta, persigam os vossos sonhos, agarrem-se aos vossos desejos, puxem mais por vocês, triunfem-se, mas não se acanhem, não se iludam, não se persuadam de que muito do que vemos como impossível ou intangível o seja na verdade, não se deixem alienar pela conversa alheia de um desgraçado que não teve a coragem de lutar para vencer na vida. Não sei donde tirei este paleio todo, mas já o escrevi aqui e ficou escrito.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Um Bom Ano de 2009

Boas, pessoal! Um excelente 2009 a todos os visitantes deste blogue e que este seja um ano de uma sucessão de sucessos, de muito amor, paz, alegria, tranquilidade, realizações importantes, bla bla bla...


Eu passei o Fim de Ano com uns amigos na Residência da Alegria. Foi mais estar com a malta, beber uns copos, conversar, ouvir músicas da terra., uma confraternização à maneira cabo-verdiana para os jovens universitários que não quiseram estar em festas de maior dimensão. Neste sexto ano sem passar o final de ano em CV, a coisa foi, se calhar, das mais fracas passadas fora. Porém o estar entre amigos fez-me entrar com certa satisfação, já que nunca se pode ter tudo e quem tem amigos nunca está só e sempre tem muito com que se alegrar.

O habitual de todos os anos em Coimbra é o fogo-de-artifício na famosa Praça da República, no entanto, este ano foi mesmo defronte a essa residência, ao pé do rio Mondego, que fica bem do outro lado da praça.

Estas imagens que vou deixar cá caracterizam o Céu sobre o dito rio, do momento da passagem de ano até uns largos minutos posteriores, enquanto nós, do outro lado, bebíamos a nossa mini gelada, vendo outro ano a esvair-se e um com muito mais promessas a arrancar - cremos nós! - em grande.

Reforço aqui os votos de feliz Ano Novo e espero poder ter mais tempo para ter cá mais posts e mais visitas.



Aquele abraço amigo desde terras lusas.

terça-feira, outubro 21, 2008

Nho Lobu Kantu Larga Mamâ sê Má

Stória, stória! Fartura di séu, Amé!
Gosin ê Nho Lobu ki sta manda na nhas stórias. Ben, diskrisaun di kel figura li ka ê mas presizu, ma reforsu si kalhar sin: Kel Nho Lobu tem stangu mesmu largu, pa el kume e ka tem piedadi y si kuzas surji di grasa, fartura di Nho Lobu, sê intxi pansa, podê té kusta morti di argen, mesmu kés mas keridu.
Kantu Nho Lobu nesê, sê má, Mamá Nha Loba tinha dor dimás, pamô kela ka era mininu, era sima un bizerru grandi ta sai di dentu di un mudjê. Inda pur sima el dura 12 mês na barriga pa el kunsa rezolvê na sai. Kela só burru ta sta prenha tantu tenpu asin. Tudu minin nobu ta nesê ku barriga grandi, ma Nho Lobu disê-l era un stangu artu ki kumesa li na petu ki da baxu. Kuazi e ka nesê ku parti baxu, era isensialmenti bandoba. Inda pur sima el nesê ku denti sima padja, un boka denti ki ba txika na kes di pilon unbês. Era un disgrasa ki mudjê pari na partu mas difísil ki kel partera dja fazeba na sê bida. Partera, txumaba Maria y era un mudje di fé kristan, dretu dimas, ki té sê maridu ta txumaba el Nha Mina-l Têti, pamo el ta atxaba ma Maria era só ta konpó mundu, ta fazê ben pa tudu arguén, ma el go el fika stragadu y ninguén ka ta djudaba el ku sê-s prublemas. Ês partera bira fra:
- Deus nho purdan, ma keli e kuzê ki ês mudjê pari?!! Ês ê kriatura mas stranhu ki dja sai dentu di un arguén pa nha mon. Nho torna purda-m, ma kreki era midjó matal antis di el bem kaba ku mundu. Ês ê Satanás ki sta nesê na un koitadu kriatura di pekadu.
Ben, Nho Lobu nton kaba furadu ku, el da un gritu ku vós grós y ratxadu sima kabra ki kume lantisku. La mé el bota sê má (ki staba xeiu di dor) mon na máma el kumesa ta mamâ. El tinha kada sorbu ku kel sê bexon ki sê má fika logu priokupadu. El ta mamaba txeu tudu dia y el ka pára taun sedu. Kantu el fazê un anu di idadi, pesoal parsê tudu la na kaza pa kortá-l un bolu. Ma ninguén ka atxa un padás di kel bolu ki foi feitu ku 10 kilu di farinha y 40 obu di galinha terra, na un forma taun grandi ki ta sta na un muzeu la na Bila. Kantu el kaba kumé bolu tudu,, el puxa máma el kumesa ta txupa. Gentis fika tudu spantadu ku apititi di kel minin di un anu, ki ta kumeba sima bu odja un limária.
Nho Lobu ta kumeba na kaza tudu arguén, na tudu refeisaun, ma mesmu asin, inda ku kuatu anu, el staba ta mamâ. Koitadu Máma Nha Loba fika kada dia mas fraku, ku kostela sima taba batê, só kabesa, ma simé Nho Lobu ka pára di mama-l kel txurru leti ki sê máma morsedu staba ta da. Kantu el fazê 7 anu, inda ta mamâ sê má y más mudjês di la pertu ki pari na tudu ês ânus, vizinhansa ki staba tudu priokupadu ku stadu di kel koitadu mudjê, rezolvê na mata un kabra gorda, es kuzinha-l na bidon kortadu ku 20 kilu di mandioka ês leba Nho Lobu, ês fazê un mei bidon di kobi y inda más un di xerén. Tudu keli ês leba Nho Lobu, pa sê festa di 7 anu. Nho Lobu brusga tudu kuza na uns 35 minutu y el bota mon na máma, el kumesa ta mamâ. Tudu arguén bira ta fra:
- Aês ka dretu! Keli arguén ka sabê kuze más ta fazê pa el xa sê má logra un bokadin. El ta mamá-l te ke-l mata-l. Ê pasénsia!
Pasa monti anu, na dia ki Nho Lobu ta fazeba 18 anu, gentis torna ba fazê-l kel surpreza. Ês mata 10 porku, só banha, ês fazê torema ku txorisu, ês kuzinha y ês frita karni, es fazê sarapaté y sopa di tripinha, enfin, ês tra kes porku tudu so kókó ku kabelu y ês apruveita tudu kezotu kuza. Nton ês leba Nho Lobu sê prizenti d’anu, ta pensa:
- Porra tudu banha ki ês porkus tem, ku tudu ês tranfanfan, Nho Lobu al doga di kume. Inda dje-l da omi, el podê ba panha sorti el tem ki ten kel disernimentu di larga máma.
Ken ki fra! Nho Lobu nhamé kês 10 porku sima sta, ku gurdura ta farfadja, el kume te ke-l sinta na txon. La mé sintadu el fra sê ma pa txiga pa el, el tra máma el sorbê.Gentis fika sem palavra, ma un papia la di trás:
- Opa, kela ka sta arguén más! Ka bale pena tenta más.
Di faktu pesoal dizaparise pa uns tenpus y ês ka parsê mas pa sê aniversáriu, ês ka leba-l prizenti más, nen kês txada kumé kês leba antis. Anu ta entra anu ta sai, Nho Lobu ta mamâ Mamá Nha Loba unbés bai y ê ka ta saiba di sê pé. Ba té ki mudjê fika sintadu na un bankin, ka ta podê nen labanta pa sês afazeris di dia-dia.
Kantu Nho Lobu fazê 59 anu, inda el staba ta mamâ. Kês vizinhu rezolvê na tenta un últimu bês y na dia ki Nho Lobu fazê 60 anu, ês mata 4 tôru di 400 y tal kilu kada un. Ês ranja un kamiaun atreladu, ês ba na Txan, la na ká Nevis, ês intxil té boka di mandioka ês da ku-el baxu, sima kuza ês staba ta ba da festa di Banderona. Nevis fazê dinheru sima padja kel dia, kel panha sê móta el da pa Bila el ba garda-l na banku. Nevis go ê roskon, ma un kamiaun di mandioka era tudu mandioka ke-l tinha dispunível, pur isu el pranta-l presu.
Kantu gentis txiga na zona, ês prepara es kumê tudu, ku ronku saku d’arrós, ku 4 kanteru di kobi … tudu pa Nho Lobu ba stanka na tripa. Na ta prepera ês festa tudu pa un argén só, es fika ta kumenta:
- Des bês ke bês! Ê té ki Nho Lobu larga máma, êl ta kumê té ke-l rabenta dês borta!
Dja ka era surpreza ma Nho Lobu era maior baka ki tinha na mundu interu, ma tantu kumé sin ka tem ninguén ki ta kumé-l. Ê sin ki kês gentis fika ta pensa.
Na ora di verdadi, foi ki Nho Lobu kumé ke-l kumé tudu sima sta. El dura más tenpu, el kumé el diskansa el torna kumé. Era um’ora ma kantu ta da 3 ora tardi kabu dja staba in praia. Tudu mei -bidon vaziu y linpu ki nen ka mesteba laba. Kantu el kaba kumé tudu, fartu sima un grilu, el puxa máma di Mamá Nha Lobu (ki staba sima un arma) pa el bafa kuzas ku leti. El txupa, el txupa, so barulhu ki bexu fazê, leti kê bom… nada. El torna tenta y mudjê staba mesmu nas últimas kuazi ta morré. Leti ka sai y nton Nho Lobu bira el fra Mamá Nha Loba:
- Spia sê kára, si nen bu fidju bu ka sta pode da máma más, nton bu podê morre mé, pokabrigonha!
Mudjê, ku más di 80 anu, skapa kai di kel banku ki djel duraba sintadu na el. Inda ontonti N pasa la, N atxa Nho Lobu ku kel máma dentu mon ta tenta odja si ta sai algun txurru di leti y senpri ta fra ês mesmu kuza: “Un má ki ka pode da sê fidju máma, pode morré y ê ka ta fazê falta”.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Nho Lobu Kantu Era Rapás

Si Nho Lobu, arguen grandi, ta kume dimas, nhos imajina kantu era rapaz nobu! Pois é! Nho Lobu, kel grandi kumelaun ki ka ta skodje mutu kuze ke-l ta kume, tinha kuatu fidju matxu el ku se mudjê, Nha Loba. Mudjê go na kel últimu partu ka rezisti pamo kabesa di kel Nholobin era mesmu grandon di forma ki kuzas roka dimas y mininu sai bibu ma el el morre na ora. Nton Nho Lobu fika el so ta kria kes minis, Ki es pari un di trás d’otu sima ki monti kazal gosta di pari na Fogu. Kês minis era sima skada, di taun pertu ki ses idadi era. Aliás, kel sigundu nese kantu Nha Loba inda staba ta da kel primeru máma y, komu fidju di kabra e rotxa kel ta bá, es fika tudu dós ta mama kel koitadu di ses má, te ki mudje fika seku raganhadu sima pó di lenha, ku máma ta pindra baxu sima kuza el teneba 200 anu.
Bem du volta a es mumentu di stôria y a sê grandi personajen, Nho Lobu Limária (na palavras di Arkulanu). Kel anu kume da mofinu na Fogu y minis di Nho Lobu staba tudu mangradu, ma sês pai ta kumeba tudu strumu y el teneba sê korpu brin-brin. Kel belu dia, Nho Lobu ferbê un pápa pa el kume el ku sê fidjus. Era un kaleron grandon di pápa ki ta daba pa mas di 20 arguén kumé. Nho Lobu panha kuatu pratu el furria dianti kês koitadu minis ki staba peli ku osu y el pôs kada ês un kudjerona di papa, ma ê ka intxis pratu ninhun, nen kês 2 más grandi. Baka sima Nho Lobu era el fika ta kume la me na kel kaleron, ma ta sorbe papa taun fasi y ku barunlhu ki kes minis, en vez di kume sês bokadin, ês fika tudu tarantadu ta spia-l. El brusga kel papa tudu na pokus sigundu y inda el bira el fra, ku minis ta djobe-l dentu kel sê odjon di baka foladu:
- Porra, es papa era poku, el ka fartan.
Kantu minis bem na ês, es ranka ta kume. Nho Lobu fika ta spiá-s el ta torna spiá-s. Nton el puxa kel pratu di ke-l mas miodin el fra-l:
- Kume ku bu ermun mas grandi. Komu nhos dós nhos e mas nobu nhos ka ta kume txeu.
Fika Nton kes dós mas miodin ta kume nun pratu. El, Nho Lobu el sorbe ke-l pápa na un bokada so. El bira, el torna spia pa kes dós mas grandi, el fra sin:
- É injustu kes dos mas miodu ta kume djuntadu pa nhos kume siparadu. El puxa pratu di kel mas grandi el fra-l:
- Kume ku bu ermon, nhos te mâma nhos mamaba djuntu y e ka gosin ki nhos sta bem mostra bakisa.
El bira el rapa kel pratu ku língua, xua , el po-l riba kelotu ki el tumaba primeru.
Mesmu asin el fra:
- Diabu di pápa ka tem sustentu, e ka sta fartan. Diberbunkadu!
Nton el puxa mas un pratu, el frá-s:
- Nhos e tudu ermun, nhos kume tudu djuntadu, na uniaun di família.
El da kel restin pan, el ka farta, komu óbviu. E la go ki, konsienti ma el staba ta peka gravimenti, el po mon p’artura el pidi Deus pa perdua-l y na baxa ki mon ta baxa, kelotu pratu bem pa sê boka. Kês minis fika ta spia-l tan. Nton el frá-s:
- Nhos e nobu inda, nhos tem txeu tenpu pa nhos kume, nhos pai sta ku vontadi kume y ku kabu pô-l, pur isu nhos ba ta guenta. Manhan Deus ta da más.
Prontu, si kalhar tudu arguén ta pensa ma asin Nho Lobu dja fika sasiadu di sê fomi tudu. Ma ki dia!!!!!!!!!!! Uns sinku minutu dipos barriga kumesa ta ronka-l. Kes minis, komu kuazi nada es ka kume, es fika la sintadu nkodjedu ku sês fomi, ku odju tudu trakoladu y duedju sima nó di korda. Nton Nho Lobu, ki fomi ka kababa inda, labanta el da dós volta y el pega na ke-l Nholobin mas nobu tudu el fika ta bota pa riba, ta finji ma el kre brinka ku-el y animá-s ês otu tudu. El bota-l pa riba uns kuatu bes y na bes di sinku el bota-l mesmu artu el raganha boka. Minin bem di tonbu la d’artura el kai dentu sê bokona y el e ka spera mas nada, el nguli-l. kel Nholobin ka morrê simé, pamo Deus ten. El fika na barriga-l Nho Lobu, sê pai, ta futu-futu. Kezotu Nholobins fika tudu ku medu ta koko pé, spantadu, odju ragilidu, koladu na kumpanher la nun kantu. Nho Lobu bira ta spiá-s ku gana kumê-s tudu, pamo el perde konpletamenti kontrolu di forsa di sê instintu di kumelaun, di gula. Minis kumesa ta txora, ta grita, ta mixa pé. Nho Lobu abri brasu sês dianti pa es ka ten kabu fuji y el bira el frá-s, ku un surrizinhu di fundu, ta tenta konvenses ma foi un asidenti:
- Nholobins, nhos tene medu papá?! Ka nhos fika ku medu nhos pai!
Ma tudu pa kumê-s!!! Na ke-l gritaria ki minis finka (era un akadirré ki obidu ba Brava unbés) guentis korre pa ba da difé, tudu ta pergunta kunpanheru kuze ki staba ta kontise na ká Nho Lobu ki minis staba ta pupa artu sin. Kantu monti guentis txiga es odja ma staba ta falta un di kes Nholobin, es bira ta pergunta undé ki kel mininu staba, tantu pa Nho Lobu komu pa Nholobins. Minis (Nholobins), ku medu, fra ma era sês pai ki bota-l pa artura el nguli-l. Guentis ruma na Nho Lobu ta ngoda-l:
- Ó Nho Lobu, fazê argun kuza, tenta vumita pa bu fidju sai, inda el sta bibu. Di zimola seja amor di Deus!
Nho Lobu, komu asin el staba ta sinti bem xeiu y se-l vumitaba fomi ta torna daba el, el pára el spiá-s tudu dentu rostu el frá-s:
- Nha guentis e ka mi, ami te djan kre vumita, ma N ka sabe kumodê! Ami N ka prendê vumita.
Guentis fik la na un esforsu, ta korre Nho Lobu mon na barriga, na kabesa, ta mete-l dedu na boka, ma simê ke-l omi ka tevi piedadi di vumita pa kel Nholobin sai dentu de linda ku bida. Y asin fika. Nho Lobu e taun “k’arguen”, taun limária ke-l kume sê propi kodê matxu, na kel Fogu di fartura, ma ki ora ki krizi panha y azágua ka da monti anu sigidu, kabu ta bira pretu sima brêu y un disnaturadu sima Nho Lobu ka ta skodje kuze ke-l ta kume y el ta faze tudu pa el stika se bandoba-l baka.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Saudades do Fogo

O verde que a paisagem lá fora encerra, contrasta grandemente com a realidade seca da minha ilhota que muito adoro. Sobre este verde chove com muita frequência, mas sobre o seco daquela ilha negra e pelada muito pouco chove, mesmo no período das chuvas. Dizem - notícias de quem lá esteve recentemente - que ela também está coberta de um verde efémero -pois brevemente desaparece - e que este ano poderá haver fartura nas azáguas. Notícia boa! Contudo, deixa-me um pouco saudoso, de água na boca, cheio de vontade de comer o milho verde, assado, cozido - seja como for! - feijão fresco, verde - bangolon, fabinha berdi, bonjin, baxinha - "balonbolu", enfim... aquela vasta quantidade de hortícolas e frutas de boa qualidade que há com fartura no Fogo quando dá chuva e as pragas não aparecem em desespero para devorar grande parte dos campos.
Dizia eu, o verde contrastante lá fora infunde-me saudades, mas também me conforta no sentido de que sempre que estou a ver para ele, tenho presente o seco, o nu da região donde sou oriundo no Fogo. Portanto, nesta união de contrários, o que me identifica e fascina é o meu verde efémero das azáguas e o seco prepoderante das outras "estações" do ano.
Abro a janela e deparo-me com relva estendida; vejo mais à frente e o rio Mondego lá passa; mais para cima, autêntica floresta com grandes construções entre as muitas árvores que se põem de pé fielmente, parecendo soldados a jurar bandeira. Nada disso me espanta ou me espantou quando cá cheguei! Vi, a priori, que esta realidade não era a minha e soube sempre viver com esta consciência. Mas embora no outro extremo, esta conjuntura toda não me pôs estupefacto: com o preponderante verde, estas muitas pontes a travessar rios, as estradas largas e com alcatrão, os muitos autocarros e automóveis, as muitas pessoas a circular sempre na azáfama do dia-a-dia, as baixas das cidades cheias de lojas e centros comerciais e as mil e uma coisas mais, nada disso me faz regozijar-me tanto quanto o viver na paz, tranquilidade, simplicidade, humildade e pequenez do meu negro e explosivo Djarfogo. É sim uma realidade muito diferente, aqui e pela Europa dentro, mas diferente em todos os sentidos. Por mais que eu conheça países e cidades, por mais que veja riquezas, por mais que isso, por mais que aquilo... apraz-me concordar que nenhuma destas enormidades de países e cidades me identificam tanto quanto o fazem as minhas casinhas e funcos do Fogo, as estradas estreitas que ligam as pequenas povoações, o povo singelo e cheio de morabeza, o "tudo" que lá se tem ou se pode ter e aqui nunca vi, nunca tive nem nunca vou ter.
É certo que os cabo-verdianos emigram na esperança de vida melhor. Mas é caso para perguntar: melhor até que ponto? O cabo-verdiano que viaja começa a queixar-se de estresse, - que nunca tivera em CV - , de muitos problemas de saúde - que nunca sentira em CV -, da falta de amigos - que nunca sentira em CV -, da falta de tempo - que tinha de sobra em CV... e de mais muita coisa que nunca experimentara em CV. É por isso que me queixo agora de saudades, de vontades, de alguma tristeza... É por isso que no meu peito albergo um grito enorme que só soltarei quando voltar a pisar a ilhota que me viu nascer, crescer e tornar-me homem e que, sei muito bem, me aguarda de braços abertos, como uma mãe sempre espera por um filho ausente. Se eu chegar de dia terei o sol escaldante. Porém, se chegar de noite, almejarei que ela faça explodir o vulcão para me dar luz, para me ajudar a gritar e soltar a frustração toda que trago cá dentro a corroer a minha alma e a oprimir as grandes alegrias da minha vivência foguense.