Bem, aqui estou eu para o post “Pensar a Vida – Parte II” (Obrigado pela sugestão OG! LOL). Ora a pensar na vida, a poucos dias do meu regresso a CV, vejo que realmente os laços criam-se e a vida está sempre na sua dialéctica, como um rio que corre sempre sem parar, desde que não seque, mas a água que corre nunca é a mesma. Bem laços fortes nascem, particularmente quando a vivência é no seio de estudantes, numa cidade pequena, de muita paródia, de muita “vida boa”, com muita propensão para amizade, conhecimentos variados e mais etc.. Agora as mudanças da vida nem sempre são as que a gente traz na expectativa. Digamos que começamos a familiarizar com uma realidade diferente da nossa e que, mesmo que de início, nos tenha parecido difícil de assimilar, acabamos por, efectivamente, ganhar muito dessa outra realidade e começamos mesmo a sentir que já não somos exactamente a mesma coisa, que já não temos em nós somente o que de início trouxemos connosco. Isto é bom, desde que o que tenha sido assimilado seja para nos enriquecer positivamente a nível cultural, de atitudes e afins… Porém pode ser mau quando acaba por apagar muito daquilo que devia permanecer na base do nosso orgulho cabo-verdiano. Portanto, é bom que se consiga conciliar a cultura que se traz com a que aqui ou ali se encontra e aproveitar o que é bom para a evolução da pessoa em si enquanto ser humano, salvaguardando sempre o que se pode chamar de “património” particular – digo aquilo que sempre teve e que foi adquirindo desde a nascença.
Chegar a Portugal para estudar foi de início uma mudança grande na minha vida, mas acabei por me habituar a isto, até certo ponto. Nos seis anos e tal da minha vida em Coimbra, muito aprendi e muito conheci, minha vida acabou por se cruzar com muitas outras vidas e eu, por partilhar muito das minhas vivências com pessoas de culturas diferentes. Ora daí uma ligeira alteração sempre surge, mesmo que insistamos em dizer que na verdade somos puramente o que sempre fomos. Torna-se assim inevitável a alteração da nossa identidade enquanto povo e também da nossa própria alteridade, aquilo que cada um de nós, com a identidade cabo-verdiana de todos, é particularmente. O que motiva essas mudanças todas? Ora, simplesmente um ambiente totalmente diferente, a vida que se leva por cá, a forma de ser moldável das pessoas, a nossa convivência insistente com mentalidades diferentes, os diálogos e discussões, a universidade, a “vida fora de casa”, as diferenças de opiniões, enfim… mil e uma coisas mais que sempre se põem nos nossos caminhos e a gente, não as contornando, enfrenta-as, entende-as e, já agora, assimila-as.
A ver vamos o impacto que isto terá no seio dos meus amigos em CV. A ver se, descuidadamente, não perdi algo que nunca devia ter perdido, se ainda sou aceito da mesma forma pelos meus na terrinha onde nasci, cresci e até me tornei homem. É claro que terei que me readaptar, pois há já quatro anos que não vou à terra e seis anos e poucos meses que estou ausente fisicamente da minha realidade. Creio que está tudo cá em mim, porque a realidade de Cabo Verde é indelével, mas muita coisa foi acrescentada, muita coisa foi alterada, muita coisa boa e, quiçá, sem querer, muita coisa vista como má ou pouco aceitável para os que não viveram uma outra realidade como ou parecida com esta.