É neste tom negro, verde dum lado, árido doutro, que me mostro a quem me observa das alturas, com este perfil afunilado e as mil e uma fissuras, pois, visto assim dos ares, nunca tive outro rosto.
Pareço explosivo, mas não sou nenhum monstro! Albergo uma gente afável, oriunda de mil culturas; jacente em mim, um vulcão ergue-se nas alturas e confere-me, além de estilo lapidar, egrégio posto.
Cobre-me, aqui, manto verde de árvores e sisais; ali exibo as lavas e as terras e ribeiras ressequidas; além, no negro chão, verdes videiras e muito mais;
Beijo o mar com beiços negros de areias aquecidas; meus nobres sobrados são do colonialismo os sinais; o vinho e o café atestam meu bom gosto nas bebidas.
Bem, aqui estou eu para o post “Pensar a Vida – Parte II” (Obrigado pela sugestão OG! LOL). Ora a pensar na vida, a poucos dias do meu regresso a CV, vejo que realmente os laços criam-se e a vida está sempre na sua dialéctica, como um rio que corre sempre sem parar, desde que não seque, mas a água que corre nunca é a mesma. Bem laços fortes nascem, particularmente quando a vivência é no seio de estudantes, numa cidade pequena, de muita paródia, de muita “vida boa”, com muita propensão para amizade, conhecimentos variados e mais etc.. Agora as mudanças da vida nem sempre são as que a gente traz na expectativa. Digamos que começamos a familiarizar com uma realidade diferente da nossa e que, mesmo que de início, nos tenha parecido difícil de assimilar, acabamos por, efectivamente, ganhar muito dessa outra realidade e começamos mesmo a sentir que já não somos exactamente a mesma coisa, que já não temos em nós somente o que de início trouxemos connosco. Isto é bom, desde que o que tenha sido assimilado seja para nos enriquecer positivamente a nível cultural, de atitudes e afins… Porém pode ser mau quando acaba por apagar muito daquilo que devia permanecer na base do nosso orgulho cabo-verdiano. Portanto, é bom que se consiga conciliar a cultura que se traz com a que aqui ou ali se encontra e aproveitar o que é bom para a evolução da pessoa em si enquanto ser humano, salvaguardando sempre o que se pode chamar de “património” particular – digo aquilo que sempre teve e que foi adquirindo desde a nascença.
Chegar a Portugal para estudar foi de início uma mudança grande na minha vida, mas acabei por me habituar a isto, até certo ponto. Nos seis anos e tal da minha vida em Coimbra, muito aprendi e muito conheci, minha vida acabou por se cruzar com muitas outras vidas e eu, por partilhar muito das minhas vivências com pessoas de culturas diferentes. Ora daí uma ligeira alteração sempre surge, mesmo que insistamos em dizer que na verdade somos puramente o que sempre fomos. Torna-se assim inevitável a alteração da nossa identidade enquanto povo e também da nossa própria alteridade, aquilo que cada um de nós, com a identidade cabo-verdiana de todos, é particularmente. O que motiva essas mudanças todas? Ora, simplesmente um ambiente totalmente diferente, a vida que se leva por cá, a forma de ser moldável das pessoas, a nossa convivência insistente com mentalidades diferentes, os diálogos e discussões, a universidade, a “vida fora de casa”, as diferenças de opiniões, enfim… mil e uma coisas mais que sempre se põem nos nossos caminhos e a gente, não as contornando, enfrenta-as, entende-as e, já agora, assimila-as.
A ver vamos o impacto que isto terá no seio dos meus amigos em CV. A ver se, descuidadamente, não perdi algo que nunca devia ter perdido, se ainda sou aceito da mesma forma pelos meus na terrinha onde nasci, cresci e até me tornei homem. É claro que terei que me readaptar, pois há já quatro anos que não vou à terra e seis anos e poucos meses que estou ausente fisicamente da minha realidade. Creio que está tudo cá em mim, porque a realidade de Cabo Verde é indelével, mas muita coisa foi acrescentada, muita coisa foi alterada, muita coisa boa e, quiçá, sem querer, muita coisa vista como má ou pouco aceitável para os que não viveram uma outra realidade como ou parecida com esta.
Quando a vida está para oferecer coisas boas, ela não mede quantidades, nem tamanhos… vai oferecendo. Mas quando ela resolve tirar de nós coisas que nos interessam e que amamos, ela fá-lo sem piedade, faz o saque e continua a andar como se nada tivesse acontecido. Ora, não sei por que estou a escrever isto, porém, sentei-me cá e comecei esta escrita. Não tenho muito a dizer e nem o tema me parece desconhecido, contudo não sei bem que escrever. Mas dane-se, vou escrevendo e acabo por encher esta folha e, quiçá, outra e mais outra.
Costuma-se dizer que a vida é bela, que ela concede alegrias, oportunidades, que nos guia da melhor forma, que nos oferece mil e uma coisas, dado à sua preciosidade. Todos sabemos que é numa só vida que adquirimos e perdemos tudo e que viver implica mesmo aproveitar as coisas boas da vida e tentar evitar ao máximo as coisas más e fazê-las passar ao lado. Tal não acontece sempre! Muitas das vezes as coisas más aparecem de surpresa para estragar os muitos momentos de bonança. Fazemos o nosso melhor para não termos que ver na nossa vida mais coisas más que boas, mas para muita gente a vida pouco sorri e o que mais lhe proporciona são as infindáveis amarguras, desassossego, desprazer, dissabores. O sofrimento destas pessoas é imenso e a sua vida é que patrocina tudo. Entretanto, nem por isso essas pessoas se suicidam ou deixam de perseguir os objectivos, continuam a sua luta para triunfar, vão dando o seu máximo para que tudo se ajuste da melhor forma. Pessoas como estas, que sofrem, que vivem problemas e mais problemas, mas que lutam muito e os ultrapassam sempre, são merecedoras de toda a nossa admiração e respeito. Tais pessoas vivem e experienciam as mais adversas situações, são confrontadas com as mais variadas complicações, contudo, por não se deixarem bater e por continuarem a enfrentar os desafios com ímpeto e determinação, elas quase sempre dão a volta por cima e preparam-se para as novas intempéries que na estrada da vida tanto podem estar localizadas nas curvas mais assombradas como nas rectas mais iluminadas, mas sempre de forma imprevisível. Quando eu falo com pessoas que contam os seus problemas e que, sem se exibir, se referem à forma como conseguiram ultrapassá-los, sinto orgulho, sinto prazer de falar mais e mais, porque de repente a sua perseverança infunde em mim o desejo de lutar pelos meus objectivos, de perseguir os meus sonhos e de confiar que realmente muito do impossível que se incute em nós é bem possível com coragem, luta, fé em nós mesmos e vontade de alcançar o intangível. Não falo aqui de ninguém em especial. Entretanto, todos sabemos que a vida tem dessas coisas e que às vezes é preciso sofrer ou até perder muita coisa, para depois ganharmos deveras o que não está ao alcance do fraco, do conformista e do desistente. Esta é portanto a minha mensagem de hoje para os meus amigos, para as pessoas que se queiram tocar, mas que, no entanto, ainda não foram avisadas ou motivadas com ousadia: levantem-se e vão à luta, persigam os vossos sonhos, agarrem-se aos vossos desejos, puxem mais por vocês, triunfem-se, mas não se acanhem, não se iludam, não se persuadam de que muito do que vemos como impossível ou intangível o seja na verdade, não se deixem alienar pela conversa alheia de um desgraçado que não teve a coragem de lutar para vencer na vida. Não sei donde tirei este paleio todo, mas já o escrevi aqui e ficou escrito.
Boas, pessoal! Um excelente 2009 a todos os visitantes deste blogue e que este seja um ano de uma sucessão de sucessos, de muito amor, paz, alegria, tranquilidade, realizações importantes, bla bla bla...
Eu passei o Fim de Ano com uns amigos na Residência da Alegria. Foi mais estar com a malta, beber uns copos, conversar, ouvir músicas da terra., uma confraternização à maneira cabo-verdiana para os jovens universitários que não quiseram estar em festas de maior dimensão. Neste sexto ano sem passar o final de ano em CV, a coisa foi, se calhar, das mais fracas passadas fora. Porém o estar entre amigos fez-me entrar com certa satisfação, já que nunca se pode ter tudo e quem tem amigos nunca está só e sempre tem muito com que se alegrar.
O habitual de todos os anos em Coimbra é o fogo-de-artifício na famosa Praça da República, no entanto, este ano foi mesmo defronte a essa residência, ao pé do rio Mondego, que fica bem do outro lado da praça.
Estas imagens que vou deixar cá caracterizam o Céu sobre o dito rio, do momento da passagem de ano até uns largos minutos posteriores, enquanto nós, do outro lado, bebíamos a nossa mini gelada, vendo outro ano a esvair-se e um com muito mais promessas a arrancar - cremos nós! - em grande.
Reforço aqui os votos de feliz Ano Novo e espero poder ter mais tempo para ter cá mais posts e mais visitas.
Este é um Blog onde escrevo sobre a ilha do Fogo, em geral, e sobre São Filipe, em particular. Espero que a sua leitura seja feita com espírito crítico e que todos os que o leiam, deixem as suas sugestões. Nada me rouba o orgulho que tenho em ser um filho da ilha do vulcão e de ter nas veias o sangue quente, fervido na chama das suas lavas.