quinta-feira, abril 24, 2008
quarta-feira, abril 23, 2008
Avizinha-se Nhô San Filipe
A famosa festa do Município de S.Filipe, na cidade de S. Filipe, ilha do Fogo, já está à porta. Brevemente começarão as actividades alusivas a esta data (1 de Maio), que, pela sua importância e antiguidade, atrai fortemente a atenção do país e de algumas partes do mundo onde residem foguenses.
A corrida de cavalos é um dos pontos máximos das festividades e chama à sua assistência um número grande de pessoas. Antigamente, realizava-se na pista onde agora funciona o aeroporto de S. Filipe. Relembre-se que houve uns tempos em que a tal pista esteve encerrada e S. Filipe não tinha aeródromo. Com a sua reabertura, após longos anos de espera e alguns de (re)construção, transferiram as corridas de cavalos para a zona de Cutelo de Açucar e mais tarde, para um outro sítio, relativamente próximo do dito aeroporto. Salvo erro, desde então, as corridas passaram a ser sempre realizadas naquela área. A "apanha da argorinha", pelos cavaleiros, realiza-se no dia 1 de Maio, no Alto de S. Pedro, nas imediações da residência oficial do presidente da câmara municipal e do próprio edifício da CMSF.Como toda a "festa de santo", a de Nhô San Filipe conta com uma missa e prossissão, com um desfile pelas ruas da cidade, transportando num altar móvel o santo padoreiro. Ainda, como festa que é, há "xerên", carne, mandioca, etc.. Também há torneio de futebol em que participam, além de equipas locais, outras de fora do concelho e, às vezes, da ilha. Julgo haver muito mais actividades complementares que, agora, não me recorde.
O que mais se aguarda com ansiedade, são as noites da feira (26 de Abril a 1 de Maio), na Praça do Presídio (na fig. abaixo), agora totalmente adaptada (o que foi e continua a ser alvo de muita crítica por parte de muitos munícipes que zelam pela preservação do património da cidade!) para a realização de tal evento. De acordo com as minhas fontes informais, este ano vão actuar no palco de Presídio grupos de renome, nacionais e internacionais. Destacam-se, por exemplo, o grupo cabo-verdiano Livity e a Banda Calypso, do Brasil.
Digamos que agora não estou munido de muita informação actualizada para escrever aqui, pelo que o que queria mesmo era só focar à distância uma antevisão da festa do Município de S. Filipe. Fica então a promessa de mais um post sobre esta matéria, em que, numa altura mais propícia, vou querer falar um pouco mais da festa do meu município, aqui de longe, mergulhado nas saudades e carregando uma sobeja vontade de lá estar para desfrutar dos magníficos momentos que aquela festa de maior índole da ilha proporciona (isto depois de 5 anos sem lá ter posto os pés - na festa, entenda-se!).
A corrida de cavalos é um dos pontos máximos das festividades e chama à sua assistência um número grande de pessoas. Antigamente, realizava-se na pista onde agora funciona o aeroporto de S. Filipe. Relembre-se que houve uns tempos em que a tal pista esteve encerrada e S. Filipe não tinha aeródromo. Com a sua reabertura, após longos anos de espera e alguns de (re)construção, transferiram as corridas de cavalos para a zona de Cutelo de Açucar e mais tarde, para um outro sítio, relativamente próximo do dito aeroporto. Salvo erro, desde então, as corridas passaram a ser sempre realizadas naquela área. A "apanha da argorinha", pelos cavaleiros, realiza-se no dia 1 de Maio, no Alto de S. Pedro, nas imediações da residência oficial do presidente da câmara municipal e do próprio edifício da CMSF.Como toda a "festa de santo", a de Nhô San Filipe conta com uma missa e prossissão, com um desfile pelas ruas da cidade, transportando num altar móvel o santo padoreiro. Ainda, como festa que é, há "xerên", carne, mandioca, etc.. Também há torneio de futebol em que participam, além de equipas locais, outras de fora do concelho e, às vezes, da ilha. Julgo haver muito mais actividades complementares que, agora, não me recorde.
O que mais se aguarda com ansiedade, são as noites da feira (26 de Abril a 1 de Maio), na Praça do Presídio (na fig. abaixo), agora totalmente adaptada (o que foi e continua a ser alvo de muita crítica por parte de muitos munícipes que zelam pela preservação do património da cidade!) para a realização de tal evento. De acordo com as minhas fontes informais, este ano vão actuar no palco de Presídio grupos de renome, nacionais e internacionais. Destacam-se, por exemplo, o grupo cabo-verdiano Livity e a Banda Calypso, do Brasil.
Digamos que agora não estou munido de muita informação actualizada para escrever aqui, pelo que o que queria mesmo era só focar à distância uma antevisão da festa do Município de S. Filipe. Fica então a promessa de mais um post sobre esta matéria, em que, numa altura mais propícia, vou querer falar um pouco mais da festa do meu município, aqui de longe, mergulhado nas saudades e carregando uma sobeja vontade de lá estar para desfrutar dos magníficos momentos que aquela festa de maior índole da ilha proporciona (isto depois de 5 anos sem lá ter posto os pés - na festa, entenda-se!).
sábado, abril 19, 2008
CM constata "Desenvolvimento positivo" no Fogo??!!!
Tive agora a ler um artigo no asemanaonline, onde está dito que o Conselho de Ministros (CM ) Especializado para os Assuntos Económicos, Inovação e Competitividade, realizado quarta (16) quinta-feira (17) nos três concelhos do Fogo, "regista uma "evolução claramente positiva” na ilha". Como canta Gabriel, O Pensador, " é p'ra rir ou p'ra chorar?!". Sinceramente, os governantes devem pensar que todo o resto do país está repleto de estúpidos e pessoas que nada percebem de desenvolvimento. Uma ilha que está votada ao abandono desde que existe como ilha, que tem uma taxa de desemprego elevadíssima, que não tem infraestruturas de jeito, que não vê investimento nenhum da parte do governo, que carece de tudo e mais alguma coisa, que... que...e que... não pode apresentar "uma «evolução positiva» no [seu] crescimento". Porém, lá os nossos honrosos governantes dizem-no com toda a lata e, decerto, satisfeitíssimos, pensando que elucidam o mundo todo com a sua pobre retórica e com os discursinhos que mais não são que conversinhas para um boi dormir.
O que fizeram mesmo foi gastar muito do dinheiro do estado e do povo, para se deslocarem à ilha e para se instalarem por dois dias no maior conforto e encherem a barriga de comida boa e a garganta de bom vinho e uísque, para depois lá analisarem uns tantos índices - e só os que interessam realmente para a grande conclusão final (desenvolvimento??? kakakakakaka) - e assim fica tudo dito e todo o mundo contente, em pleno periodo de campanhas autárquicas. Soa-me a um apoio importante para a campanha do EV, uma vez que, dizem, lhe tremem os pés, pois o Djoka está a fazer sucesso.
"O governo não tem dúvidas" e a sua porta-voz fala claramente... Ora, os foguenses também não são cegos, não são estúpidos e não têm dúvidas que o Fogo está parado no tempo, esquecido, literalmente atrasado no que toca a desenvolvimento impulsionado pelo governo do país. Nós, ausentes ou presentes, sabemos que a nossa querida ilha merece mais, deseja mais, faz por mais, contudo o nosso governo nega prestar-se ao papel que lhe cabe, para que realmente se possa ver desenvolvimento palpável, sentir progresso, criar potenciais, convencer os foguenses de que, realmente, sendo parte integrante de CV, a ilha poderá sair da miséria em que se encontra e aspirar por dias bem melhores do que os que ora lá se vivem.
O que fizeram mesmo foi gastar muito do dinheiro do estado e do povo, para se deslocarem à ilha e para se instalarem por dois dias no maior conforto e encherem a barriga de comida boa e a garganta de bom vinho e uísque, para depois lá analisarem uns tantos índices - e só os que interessam realmente para a grande conclusão final (desenvolvimento??? kakakakakaka) - e assim fica tudo dito e todo o mundo contente, em pleno periodo de campanhas autárquicas. Soa-me a um apoio importante para a campanha do EV, uma vez que, dizem, lhe tremem os pés, pois o Djoka está a fazer sucesso.
"O governo não tem dúvidas" e a sua porta-voz fala claramente... Ora, os foguenses também não são cegos, não são estúpidos e não têm dúvidas que o Fogo está parado no tempo, esquecido, literalmente atrasado no que toca a desenvolvimento impulsionado pelo governo do país. Nós, ausentes ou presentes, sabemos que a nossa querida ilha merece mais, deseja mais, faz por mais, contudo o nosso governo nega prestar-se ao papel que lhe cabe, para que realmente se possa ver desenvolvimento palpável, sentir progresso, criar potenciais, convencer os foguenses de que, realmente, sendo parte integrante de CV, a ilha poderá sair da miséria em que se encontra e aspirar por dias bem melhores do que os que ora lá se vivem.
quinta-feira, abril 17, 2008
Tempos do Liceu em S. Filipe
Foram maravilhosos os anos em que estudei no Liceu de São Filipe na Ilha do Fogo. Aquele espaço é digno de muito amor e muita dedicação da parte de todos quantos lá estudaram mesmo que não tivessem lá concluído os estudos secundários. Eu sou um caso destes, mas ainda trago na memória as boas recordações daquele que, na minha opinião, é um dos grandes liceus do país e por onde muitos passaram rumo ao sucesso. Tive lá colegas extraordinários, conheci lá pessoas interessantes, arranjei lá amigos para a vida e travei conhecimentos que até hoje só me fazem alegrar-me no facto de lá ter estudado e ter partilhado muito da minha vida com uma malta porreira e com aquele pessoal todo espectacular que lá andou.
Pelo que eternamente estarei ufano
Por ter, de entre eles, desfrutado cada ano,
Com cujas lembranças agora me fortaleço.
Nomes indeléveis estão na lista dos grandes amigos daquela época: Faustino de Ponta Verde (que anda este gajo a fazer?!); Nuno de Vivico de Brandão (aquele grande abraço!); Alector (Lek) de monte Grande (meu grande amigo com quem ainda tenho grandes contactos. Aquele abraço de sempre!); João Evandro de S. Jorge;Ilizeu e Djedjin de LN; Lúcio (Mito) dos Mosteiros; outro Mito, também dos Mosteiros; Edson de LN (mi e bu fan!); Francisca de Penteada (menina quieta e prendada); Janice de LN; Anita de LN; Anita de Cabeça do Monte; Paula Alexandra de Monte Grande; Sony (Homi Bedju) de Fonte Aleixo Sul; Patrícia de Chã das Caldeiras, e muitos... muitos outros perdidos nas muitas páginas da minha pouco fotográfica memória.
Os professores - uns intransigentes, outros bem relaxados; uns mais p'ro sério, outros nem por isso! - faziam bem o que lhes competia fazer: preparar os alunos para um futuro que reflectisse a passagem por um liceu digno do nome. Eu, pessoalmente, quis concluir os estudos na Capital e assim o fiz. Contudo, nunca me esqueci daquela escola que me deu bases importantes para tudo o mais na vida; onde tive grandes amigos e amigas, bons professores, bons companheiros de luta, pessoas cultas, batalhadoras e que sabiam, na grande maioria, o que queriam do futuro.
Eu sempre tive presente aquele período de labor nos estudos e de muita "cabeça dura". Tenho até um poema que escrevi em tempos, no qual revelava um pouco da saudade e de tudo o mais que me vinha na alma quando - e isto acontecia com frequência - fazia uma análise retrospectiva que culminava nos meus felizes e inesquecíveis anos do liceu de São Filipe:
Os professores - uns intransigentes, outros bem relaxados; uns mais p'ro sério, outros nem por isso! - faziam bem o que lhes competia fazer: preparar os alunos para um futuro que reflectisse a passagem por um liceu digno do nome. Eu, pessoalmente, quis concluir os estudos na Capital e assim o fiz. Contudo, nunca me esqueci daquela escola que me deu bases importantes para tudo o mais na vida; onde tive grandes amigos e amigas, bons professores, bons companheiros de luta, pessoas cultas, batalhadoras e que sabiam, na grande maioria, o que queriam do futuro.
Eu sempre tive presente aquele período de labor nos estudos e de muita "cabeça dura". Tenho até um poema que escrevi em tempos, no qual revelava um pouco da saudade e de tudo o mais que me vinha na alma quando - e isto acontecia com frequência - fazia uma análise retrospectiva que culminava nos meus felizes e inesquecíveis anos do liceu de São Filipe:
Anos do Liceu
Guardo no peito e na memória
Aqueles benignos anos do liceu!
Anos que o tempo não desvaneceu,
Longos anos que trariam a glória!
Anos felizes que fizeram história;
Aqueles benignos anos do liceu!
Anos que o tempo não desvaneceu,
Longos anos que trariam a glória!
Anos felizes que fizeram história;
Ah! Aqueles maravilhosos anos do Céu,
De árduo estudo, sincera amizade e kretxêu;
De preparação para posterior vitória.
De árduo estudo, sincera amizade e kretxêu;
De preparação para posterior vitória.
Aqueles anos juvenis…quando os recordo,
Com os pensamentos d’agora pouco concordo…
Ah! Daqueles benditos anos nunca me esqueço!
Com os pensamentos d’agora pouco concordo…
Ah! Daqueles benditos anos nunca me esqueço!
Pelo que eternamente estarei ufano
Por ter, de entre eles, desfrutado cada ano,
Com cujas lembranças agora me fortaleço.
terça-feira, abril 15, 2008
Ambiguidades da Ilha do Fogo
É estranho como na ilha do Fogo há lugares completamente verdes e frescos e logo ao lado há lugares secos e quentes. Também no período das chuvas, há sítios bem próximos , em que num chove e no outro não. Às vezes, vê-se a chuva a cair assim bem perto da gente, mas onde se está pode estar a fazer muito sol. Um pouco ambíguo e paradoxal mas é a verdade. É também verdade que, à custa disso, há zonas muito produtivas e outras onde quase nada se produz nesse período de azáguas. A minha área, a zona do Pico, como se costuma dizer - não sei por alma de quem! -, é o caso de uma zona de pouca produção agrícola e muito pouca sorte na agricultura de sequeiro. O que mais lá há são pragas de todo o tipo. Às vezes fazíamos campanhas para liquidar grande parte das pragas, campanha essa tanto biológica como com uso de insecticidas. Mas não adiantava muito, pois ia uma praga e vinha outra. Contudo, com muito esforço, ainda se notam alguns espaços verdes como algumas hortas e jardins pequenos nessa área árida do Fogo. No outro pólo estão as zonas do Norte da ilha, ainda em SF, como Ponta Verde, Galinheiro, Campanas, por exemplo, e quase a totalidade do concelho dos Mosteiros, particularmente zonas altas como Atalaia, Rª do Ilhéu, Feijoal, Pai António, Relvas, Achada Grande, etc..
A cidade de S.Filipe deve ser a cidade mais quente do país e o calor que lá se faz sentir é arrasador. Entretanto, quando se começa a sair da cidade em direcção ao interior (áreas relativamente próximas), sente-se o ar fresco a correr e a coisa muda de figura. Por isso, como sempre digo, adoro ser do interior e não trocava a minha zona, Luzia Nunes (LN), por nenhuma outra. Não só pela frescura, mas também pela simplicidade que é a vida lá, pela maior liberdade de que se goza, pela simpatia dos vizinhos e de todo o mundo que lá vive, por se poder numa boa ter a criação de animais e hortas sem grande stress, enfim por mil e uma coisas que lá é trivial acontecer e que na cidade nem se sonha tentar. Digo LN e digo qualquer outra zona rural, cada uma com a sua especificidade.
Em tempos, a cidade de S.Filipe estava, por assim dizer, dividida em duas áreas: uma parte em que só moravam pessoas de grandes posses e outra em que os "coitados" tinham uma casinha para se abrigar. A cidade cresceu muito, mas não extraordinariamente, e agora estas disparidades não existem assim como antigamente. O que pode existir - e isto acontece em todo o lado do mundo - são as diferenças entre classes sociais e aquela discriminação sem cabimento com relação a pessoas do interior, discriminação essa que só toca quem se deixa tocar e se encolhe sem mostrar o que vale. Não é caso alarmante, mas é caso para se incutir na mentalidade pobre de certas pessoas que se acham, de alguma forma, melhores por residirem na cidade e por acharem que todos sonhamos lá viver. Repito aqui que não é meu caso e nem da grande maioria das pessoas do meio rural que eu conheço no concelho de SF.
Essa estranha configuração com que a nossa querida ilha do Fogo se apresenta ao país e ao mundo, é razão de alguma curiosidade por parte de pessoas alheias a essa realidade paradoxal, mas, mesmo assim, nós, os filhos do imponente vulcão, gostamos imenso do que temos - estranho ou não -, porque, muito embora nos identifiquemos sempre com o país, adoramos a nossa alteridade e o que temos de peculiar.
Em tempos, a cidade de S.Filipe estava, por assim dizer, dividida em duas áreas: uma parte em que só moravam pessoas de grandes posses e outra em que os "coitados" tinham uma casinha para se abrigar. A cidade cresceu muito, mas não extraordinariamente, e agora estas disparidades não existem assim como antigamente. O que pode existir - e isto acontece em todo o lado do mundo - são as diferenças entre classes sociais e aquela discriminação sem cabimento com relação a pessoas do interior, discriminação essa que só toca quem se deixa tocar e se encolhe sem mostrar o que vale. Não é caso alarmante, mas é caso para se incutir na mentalidade pobre de certas pessoas que se acham, de alguma forma, melhores por residirem na cidade e por acharem que todos sonhamos lá viver. Repito aqui que não é meu caso e nem da grande maioria das pessoas do meio rural que eu conheço no concelho de SF.
Essa estranha configuração com que a nossa querida ilha do Fogo se apresenta ao país e ao mundo, é razão de alguma curiosidade por parte de pessoas alheias a essa realidade paradoxal, mas, mesmo assim, nós, os filhos do imponente vulcão, gostamos imenso do que temos - estranho ou não -, porque, muito embora nos identifiquemos sempre com o país, adoramos a nossa alteridade e o que temos de peculiar.
terça-feira, abril 08, 2008
Em Memória do Meu Amado Pai
Hoje, 8 de Abril, é o Dia Mundial de Luta Contra o Cancro. Este post é mais de carácter pessoal, porque dedicado ao meu falecido pai, em virtude de ele ter sido levado deste mundo, vítima desta doença, que o consumiu de uma forma surpreendente, em Outubro de 2004. Tinha eu ido a Cabo Verde de férias nesse ano, nas férias de Verão, e ele estava aparentemente bem, sem se queixar de nada. Porém, de repente, ele ficou muito doente e, no hospital, diagnosticaram-lhe um cancro incurável, em estado bastante avançado, que já lhe tinha deteriorado a maior parte dos órgãos internos. Não demorou três meses e ele faleceu. Nessa altura já me encontrava de volta a Portugal, para meus estudos e eis que a péssima notícia se me surge na madrugada de um dia que ia ter um teste. Um pouco antes já tinha sido informado por um dos meus irmãos do seu débil estado e que podia contar com o pior ainda naquele dia. Senti-me fraco e desprotegido, ausente e incapaz, inútil, porque não podia estar com meu pai nos últimos minutos da sua vida. É tristíssimo perder um pai!, é demasiado deprimente não poder estar ao pé dele num momento de profunda consternação e chorar a dor que o seu desaparecimento físico nos provoca. Sentia-me desligado, mas, mesmo assim, rabisquei uns versos que para sempre vou ter comigo, pois, nesse dia, além de chorar a dor da minha perda, a única coisa que pude fazer foi conceber/redigir este pequeno poema, que, para mim, representa imenso a presença constante do meu pai na minha vida, apesar de ele já não poder manifestá-la fisicamente:
Em Memória do Meu Amado Pai
Acabo de receber, há pouco, a notícia de que estás muito, muito mal
E que poderás não amanhecer amanhã de manhã com vida!
Meu pai, a vida prega-nos sempre uma triste e inesperada partida...
E tristeza tão tamanha e profunda, para mim, jamais haverá igual!
Papá, saber-te assim, tão subitamente, vítima de uma doença fatal,
À beira da negra morte, numa luta vã e, ao que tudo indica, já perdida,
É, para teus filhos, arrasante, deprimente, uma desolação descomedida....
Ficaremos sem tua abençoada bênção do Ano Novo e sem ti no Natal!...
Voltei a ligar ao meu irmão e eis que mais triste e desesperado fico:
Há gente ali contigo a ver-te padecer, pessoas à espera da tua vida o fim!
Contudo, pessoas que com isso nunca contariam - e muito menos assim.
Para quem se revelava de saúde e força um homem sobejamente rico,
Meu amado pai, foi tudo, para todos, tão surpreendentemente repentino;
Surpresa má, mas "fazer o quê?": afinal é a vida cumprindo seu destino!
FFS, Coimbra, aos 14 dias de Outubro de 2004.
segunda-feira, abril 07, 2008
Saúde Doente da Ilha do Fogo!
Hoje, 7 de Abril, é o Dia Mundial da Saúde. Lembrou-mo o meu "amigo-calendário" que raramente se esquece de uma data (aquele grande abraço, OG)!! Bem, ele também sugeriu que eu falasse do estado da saúde na nossa querida ilha. Pois, vou escrever umas coisinhas e dar o meu ponto de vista.
De um modo geral, para começar - assim traduzido para miúdos - a saúde em CV anda doente desde que CV é CV. Uma doença prolongada, grave, crónica que se vem proliferando e piorando a cada dia em todas as ilhas, sem excepção. Uma pena! Gostaríamos todos que a saúde estivesse bem disposta em CV, para que o seu povo mais se orgulhasse e mais se sentisse saudável. Mas, infelizmente não é o que acontece.
Ora, se digo CV, digo qualquer ilha, de Santo Antão à Brava. Ou seja, o Fogo, nossa terra ditosa, nas palavras de Pedro Cardoso, está, também, no barco da saúde que se afunda a cada dia. O hospital público de S. Filipe (parcialmente, na figura) deve ser - para não dizer que é de certeza! - dos que de menos equipamentos dispõe e que menor número de médicos tem, para prestar um serviço de qualidade à população. As instalações, que me recorde, não são muito boas e os medicamentos prescritos não fogem muito do famoso Paracetamol, de uns comprimidos simples e vulgares e de inúmeras injecções para curar seja lá o que for. Mas a culpa é de quem? Do povo não é de certeza! Fica por apurar. Ora, na verdade não quero escrever para acusar. Só que para falar da saúde pública em Cabo Verde e dos hospitais das ilhas, tem que se falar dos problemas todos que, impreterivelmente, existem, mas que ficam no "deixar andar" típico dos sucessivos governos da República de Cabo Verde. Contudo, ninguém é capaz de fazê-lo, uma vez que os problemas são inúmeros, demasiados, graves, enormes... e fica difícil conseguir apontá-los todos e fazer uma abordagem que transmita os pormenores. Não é, de longe, a intenção deste post!
No Fogo é de se destacar o importante investimento feito pela Ordem dos Capuchinhos (italiana) da Igreja católica, que muito tem ajudado o povo doente da ilha e, com as suas excelentes instalações e equipamentos de ponta, tem colmatado muito do que fica aquém daquilo que o pobre e limitado hospital público pode fornecer. É de louvar a iniciativa e de agradecer sobremaneira a gentileza e prestabilidade dos capuchinhos para com a ilha do Fogo. Antes da existência de tais instalações, qualquer que fosse a consulta minimamente séria que se tinha que fazer, era preciso deslocar-se à Capital ou a S. Vicente. Entretanto, tendo sido criado o hospital, o sentido do fluxo até se inverteu ligeiramente. A instalação hospitalar situa-se numa zona que se denomina Cutelo de Açúcar, toda à parte da cidade de S. Filipe, porém, ao mesmo tempo, tão dentro dos seus problemas mais graves e de suma relevância. Afinal de contas, com a saúde não se brinca!
Fica aqui então expresso, em nome de todo o foguense que mo permita, o meu especial apreço pelos capuchinhos e um agradecimento profundo pela grande contribuição que deram e dão para a saúde naquela que é a ilha que um dia me viu nascer e que sonho ver bem melhor do que está agora no que tange ao estado da saúde pública.
Ah, antes que me esqueça!: que Deus dê muita saúde à nossa saúde, para que não tenhamos que recorrer com grande frequência aos serviços da Saúde Doente de CV; e que um dia possamos desfrutar de um sistema de saúde séria e responsavelmente gerido, abrangente e que nos forneça um serviço de qualidade mínima garantida. Sonhemos que Deus há-de dar asas aos nossos sonhos. É o que podemos fazer - e de graça!
Ora, se digo CV, digo qualquer ilha, de Santo Antão à Brava. Ou seja, o Fogo, nossa terra ditosa, nas palavras de Pedro Cardoso, está, também, no barco da saúde que se afunda a cada dia. O hospital público de S. Filipe (parcialmente, na figura) deve ser - para não dizer que é de certeza! - dos que de menos equipamentos dispõe e que menor número de médicos tem, para prestar um serviço de qualidade à população. As instalações, que me recorde, não são muito boas e os medicamentos prescritos não fogem muito do famoso Paracetamol, de uns comprimidos simples e vulgares e de inúmeras injecções para curar seja lá o que for. Mas a culpa é de quem? Do povo não é de certeza! Fica por apurar. Ora, na verdade não quero escrever para acusar. Só que para falar da saúde pública em Cabo Verde e dos hospitais das ilhas, tem que se falar dos problemas todos que, impreterivelmente, existem, mas que ficam no "deixar andar" típico dos sucessivos governos da República de Cabo Verde. Contudo, ninguém é capaz de fazê-lo, uma vez que os problemas são inúmeros, demasiados, graves, enormes... e fica difícil conseguir apontá-los todos e fazer uma abordagem que transmita os pormenores. Não é, de longe, a intenção deste post!
No Fogo é de se destacar o importante investimento feito pela Ordem dos Capuchinhos (italiana) da Igreja católica, que muito tem ajudado o povo doente da ilha e, com as suas excelentes instalações e equipamentos de ponta, tem colmatado muito do que fica aquém daquilo que o pobre e limitado hospital público pode fornecer. É de louvar a iniciativa e de agradecer sobremaneira a gentileza e prestabilidade dos capuchinhos para com a ilha do Fogo. Antes da existência de tais instalações, qualquer que fosse a consulta minimamente séria que se tinha que fazer, era preciso deslocar-se à Capital ou a S. Vicente. Entretanto, tendo sido criado o hospital, o sentido do fluxo até se inverteu ligeiramente. A instalação hospitalar situa-se numa zona que se denomina Cutelo de Açúcar, toda à parte da cidade de S. Filipe, porém, ao mesmo tempo, tão dentro dos seus problemas mais graves e de suma relevância. Afinal de contas, com a saúde não se brinca!
Fica aqui então expresso, em nome de todo o foguense que mo permita, o meu especial apreço pelos capuchinhos e um agradecimento profundo pela grande contribuição que deram e dão para a saúde naquela que é a ilha que um dia me viu nascer e que sonho ver bem melhor do que está agora no que tange ao estado da saúde pública.
Ah, antes que me esqueça!: que Deus dê muita saúde à nossa saúde, para que não tenhamos que recorrer com grande frequência aos serviços da Saúde Doente de CV; e que um dia possamos desfrutar de um sistema de saúde séria e responsavelmente gerido, abrangente e que nos forneça um serviço de qualidade mínima garantida. Sonhemos que Deus há-de dar asas aos nossos sonhos. É o que podemos fazer - e de graça!
quinta-feira, abril 03, 2008
Aniversário da Erupção Vulcánica (Pico da ilha do Fogo)
Ontem, dia 2 de Abril, fez 13 anos que o vulcão do Fogo entrou em erupção pela última vez. Ora, na verdade, este era um assunto para um post do dia 2, mas confesso que me não recordei da data e hoje fui alertado para tal. Mas nada impede que seja publicada uma mensagem hoje, um dia após o aniversário da erupção, assistida por muitas pessoas bem de perto e muito mais outras, ao longe, através dos media.
No dia 2 de Abril de 1995, de madrugada, ouvia-se uma grande explosão vinda lá de cima da "serra" e via-se um intenso lume, coroado de uma nuvem de fumo espessa e gigante, a erguer-se em direcção aos céus. O vulcão tinha entrado em actividade, depois de um longo período de dormência profunda (desde 1951, conforme os registos). Os olhos do mundo viraram-se para Cabo Verde - e mais para o Fogo - e apoios foram concedidos de toda a parte, para colmatar as dificuldades que surgiram - e se foram somando a cada dia - com a catástrofe natural. O vulcão esteve em actividade durante um longo período e isto motivou a evacuação e o desalojamento, por algum tempo, de todas as pessoas residentes na zona de Chã das Caldeiras, onde o famoso Pico do Vulcão do Fogo se situa. Ninguém ficou indiferente ao tamanho espectáculo da natureza que para muitos era uma coisa do outro mundo a acontecer subitamente em plena ilha do Fogo. Adultos, jovens, adolescentes e crianças viram naquilo uma expressão forte da Mãe Natureza nunca imaginada na ilha do Fogo ou em CV. Porém, pessoas mais velhas que já tinham assistido à anterior erupção de 51, puderam reviver uma experiência interessante que se lhes ressurgia assim de surpresa. A ilha conheceu, com a calamidade, um outro movimento e ficou propensa a visitas de vários turistas, curiosos e grandes estudiosos de vulcanologia. Foram de seguida instalados medidores de inclinação e sensores de CO2 e, ainda estações sismológicas no Fogo - estas últimas também na vizinha Brava.
A evacuação das pessoas da zona do vulcão durou vários meses e acabou por facultar a construção de habitações sociais para os desalojados nas zonas baixas, como é o caso de Monte Grande e Achada Furna, esta última gozando de certa proximidade da zona afectada. O balanço que se fez dos danos causados pela erupção revelava grandes perdas de áreas cultiváveis e mesmo de variadas plantações que dantes lá existiam. Chegou à ilha um contingente militar nunca antes visto, para auxiliar na organização, distribuição de alimentos e medicamentos e demais necessidades. Como centro de atenção do país e de grande parte do mundo onde a diáspora cabo-verdiana é bem representada, todo o auxílio era bem-vindo e eis que realmente foi chegando à ilha todo o tipo de apoio de todo o lado do mundo. As autoridades agradeciam em nome dos flagelados e tudo faziam para um melhor controlo e distribuição do que dia após dia chegava à ilha e que manifestava a solidariedade, amor e disponibilidade do mundo para com CV, mais concretamente para com a ilha assolada.Lembro-me perfeitamente de que eu estava a dormir um sono bem profundo, quando uma irmã minha me acordava a dizer que o vulcão tinha entrado em erupção. Naturalmente, como um leigo na matéria, saltei da cama para correr em direcção a algures onde se poderia estar fora de perigo. Nisto a minha irmã me acalmou, dizendo que todo o mundo estava lá fora a assistir ao espectáculo e que mesmo que fosse para correr, não haveria para onde. Pronto, lá nas calmas, levantei-me e fui juntar-me ao pessoal para desfrutar daquele "show" que a Natureza, feroz e inteligentemente, apresentava, lá acima na "serra", ao povo do Fogo, de Cabo Verde e do mundo. O céu era cinzento escuro e sentia-se uma chuva fina de areia por toda a ilha, durante largos dias.
O vulcão fez o seu papel e o povo também! Todos os dias havia grandes deslocações de pessoas para Chã das Caldeiras para presenciar de perto o escorrer das lavas que tudo à frente devastava, ter aquela sensação de "quem lá esteve" e testemunhar mais aquela erupção que ia fazer história e chamar à atenção o mundo inteiro. Como se pode depreender, a erupção passou a ser o tema predilecto no Fogo. Recordo-me, por exemplo, de ter escrito, na mesma semana, no primeiro ano do liceu, uma composição a falar daquilo tudo.
Bem, é natural que por mais que escreva aqui sobre este assunto, me tenham fugido boas informações e situações, até porque já lá vão alguns anos do sucedido. Entretanto as recordações ficam e são projectadas para frente de forma a que sempre nos lembremos do poder de um vulcão, que parecendo calmo e inactivo, está bem presente e alerta e, de repente, pode, perfeitamente, protagonizar mais um espectáculo bem visto a olho nu e que, acontecendo, estará acessível a todos os residentes da ilha e do país e, por que não, do mundo.
A evacuação das pessoas da zona do vulcão durou vários meses e acabou por facultar a construção de habitações sociais para os desalojados nas zonas baixas, como é o caso de Monte Grande e Achada Furna, esta última gozando de certa proximidade da zona afectada. O balanço que se fez dos danos causados pela erupção revelava grandes perdas de áreas cultiváveis e mesmo de variadas plantações que dantes lá existiam. Chegou à ilha um contingente militar nunca antes visto, para auxiliar na organização, distribuição de alimentos e medicamentos e demais necessidades. Como centro de atenção do país e de grande parte do mundo onde a diáspora cabo-verdiana é bem representada, todo o auxílio era bem-vindo e eis que realmente foi chegando à ilha todo o tipo de apoio de todo o lado do mundo. As autoridades agradeciam em nome dos flagelados e tudo faziam para um melhor controlo e distribuição do que dia após dia chegava à ilha e que manifestava a solidariedade, amor e disponibilidade do mundo para com CV, mais concretamente para com a ilha assolada.Lembro-me perfeitamente de que eu estava a dormir um sono bem profundo, quando uma irmã minha me acordava a dizer que o vulcão tinha entrado em erupção. Naturalmente, como um leigo na matéria, saltei da cama para correr em direcção a algures onde se poderia estar fora de perigo. Nisto a minha irmã me acalmou, dizendo que todo o mundo estava lá fora a assistir ao espectáculo e que mesmo que fosse para correr, não haveria para onde. Pronto, lá nas calmas, levantei-me e fui juntar-me ao pessoal para desfrutar daquele "show" que a Natureza, feroz e inteligentemente, apresentava, lá acima na "serra", ao povo do Fogo, de Cabo Verde e do mundo. O céu era cinzento escuro e sentia-se uma chuva fina de areia por toda a ilha, durante largos dias.
O vulcão fez o seu papel e o povo também! Todos os dias havia grandes deslocações de pessoas para Chã das Caldeiras para presenciar de perto o escorrer das lavas que tudo à frente devastava, ter aquela sensação de "quem lá esteve" e testemunhar mais aquela erupção que ia fazer história e chamar à atenção o mundo inteiro. Como se pode depreender, a erupção passou a ser o tema predilecto no Fogo. Recordo-me, por exemplo, de ter escrito, na mesma semana, no primeiro ano do liceu, uma composição a falar daquilo tudo.
Bem, é natural que por mais que escreva aqui sobre este assunto, me tenham fugido boas informações e situações, até porque já lá vão alguns anos do sucedido. Entretanto as recordações ficam e são projectadas para frente de forma a que sempre nos lembremos do poder de um vulcão, que parecendo calmo e inactivo, está bem presente e alerta e, de repente, pode, perfeitamente, protagonizar mais um espectáculo bem visto a olho nu e que, acontecendo, estará acessível a todos os residentes da ilha e do país e, por que não, do mundo.
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