terça-feira, abril 15, 2008

Ambiguidades da Ilha do Fogo

É estranho como na ilha do Fogo há lugares completamente verdes e frescos e logo ao lado há lugares secos e quentes. Também no período das chuvas, há sítios bem próximos , em que num chove e no outro não. Às vezes, vê-se a chuva a cair assim bem perto da gente, mas onde se está pode estar a fazer muito sol. Um pouco ambíguo e paradoxal mas é a verdade. É também verdade que, à custa disso, há zonas muito produtivas e outras onde quase nada se produz nesse período de azáguas. A minha área, a zona do Pico, como se costuma dizer - não sei por alma de quem! -, é o caso de uma zona de pouca produção agrícola e muito pouca sorte na agricultura de sequeiro. O que mais lá há são pragas de todo o tipo. Às vezes fazíamos campanhas para liquidar grande parte das pragas, campanha essa tanto biológica como com uso de insecticidas. Mas não adiantava muito, pois ia uma praga e vinha outra. Contudo, com muito esforço, ainda se notam alguns espaços verdes como algumas hortas e jardins pequenos nessa área árida do Fogo. No outro pólo estão as zonas do Norte da ilha, ainda em SF, como Ponta Verde, Galinheiro, Campanas, por exemplo, e quase a totalidade do concelho dos Mosteiros, particularmente zonas altas como Atalaia, Rª do Ilhéu, Feijoal, Pai António, Relvas, Achada Grande, etc..
A cidade de S.Filipe deve ser a cidade mais quente do país e o calor que lá se faz sentir é arrasador. Entretanto, quando se começa a sair da cidade em direcção ao interior (áreas relativamente próximas), sente-se o ar fresco a correr e a coisa muda de figura. Por isso, como sempre digo, adoro ser do interior e não trocava a minha zona, Luzia Nunes (LN), por nenhuma outra. Não só pela frescura, mas também pela simplicidade que é a vida lá, pela maior liberdade de que se goza, pela simpatia dos vizinhos e de todo o mundo que lá vive, por se poder numa boa ter a criação de animais e hortas sem grande stress, enfim por mil e uma coisas que lá é trivial acontecer e que na cidade nem se sonha tentar. Digo LN e digo qualquer outra zona rural, cada uma com a sua especificidade.
Em tempos, a cidade de S.Filipe estava, por assim dizer, dividida em duas áreas: uma parte em que só moravam pessoas de grandes posses e outra em que os "coitados" tinham uma casinha para se abrigar. A cidade cresceu muito, mas não extraordinariamente, e agora estas disparidades não existem assim como antigamente. O que pode existir - e isto acontece em todo o lado do mundo - são as diferenças entre classes sociais e aquela discriminação sem cabimento com relação a pessoas do interior, discriminação essa que só toca quem se deixa tocar e se encolhe sem mostrar o que vale. Não é caso alarmante, mas é caso para se incutir na mentalidade pobre de certas pessoas que se acham, de alguma forma, melhores por residirem na cidade e por acharem que todos sonhamos lá viver. Repito aqui que não é meu caso e nem da grande maioria das pessoas do meio rural que eu conheço no concelho de SF.
Essa estranha configuração com que a nossa querida ilha do Fogo se apresenta ao país e ao mundo, é razão de alguma curiosidade por parte de pessoas alheias a essa realidade paradoxal, mas, mesmo assim, nós, os filhos do imponente vulcão, gostamos imenso do que temos - estranho ou não -, porque, muito embora nos identifiquemos sempre com o país, adoramos a nossa alteridade e o que temos de peculiar.

2 comentários:

Oscar N. Gomes disse...

Pois e FFS. Keli e un di kes kuzas ki ta faze Fogu sabi. Pa ka fra di argen ki Fogu ten.

Nho kontinua nha boy.
OG

Anónimo disse...

só nôs de fogo que sabê e que ta conpreendi ora que nu fra ma fogo ê sabi.
ê mesmo sabi, sem mas comentario!