domingo, março 09, 2008

Mosteiros, saudades!

Mosteiros é um concelho que fica a sensivelmente 50 km de S. Filipe, na ilha do Fogo, e que alberga uma beleza invejável. Nos meus dois anos de estada naquele que é o concelho mais produtivo do Fogo (falo do café, da uva, do feijão, de frutas...), notei que o povo que lá vive é de uma particular simpatia e muito acolhedor. Começando da zona de Relvas e terminando em Atalaia, passando por Corvo, Mosteiros-Trás, Igreja , Queimada Guincho, Sumbango, Ribeira do Ilheu, etc., só se vê uma simplicidade impressionante nas pessoas que são singularmente lutadoras e esperançosas. Uma cultura campestre revela a força de um povo que vê na terra o seu sustento e que cultiva muito, apesar das adversidades, para a sua sobrevivência. O café do Fogo é dos Mosteiros, sendo que a melhor chávena de café, bem forte, perfumado e saboroso, só se pode beber nos Mosteiros.
O mar fica perto das povoações e também lá se vai buscar muito búzio, lapa, percebes e peixe que complementam a culinária da região. Qualquer apreciador de um bom ar (julgo que todos nós o somos!) pode ir ao Beco para desfrutar daquela brisa tranquila que sopra em direcção à vila de Igreja, um lugar pacato e pequeno, mas lindo e acolhedor. A vila alberga tudo o que respeita à administração do concelho (câmara municipal, finanças, hospital, correios, polícia, delegação escolar...), agências bancárias e bons restaurantes e bares/café. Existem lá duas praças pequenas, porém bem frequentadas pelos casais de apaixonados, velhos e todo o mundo que precise de ver um pouco de movimento.
Antes de galgar as montanhas para falar de zonas igualmente bonitas como Rª do Ilheu e Atalaia, falo das zonas baixas: Queimada, Sumbango, Murro e Fajanzinha. Falando nelas, vem-me à memória a linda morna escrita por alguém que desconheço, mas que comove qualquer um com o seu tema e cujo refrão/côro passo a citar: "(...) Sumbango dja txorabu, Murro fika maguadu, Fajanzinha kumpanhabu, kemada Guintxu recebebu (...)". Pois é, uma morna triste e dramática que retrata a morte de uma rapariga, provocada pela queda dela na rocha que circunda as zonas baixas. Pouca gente a conhece, mas quem sabe da sua existência muito a aprecia. Queimada Guincho, como o própria nome indica, é essencialmente rocha negra (queimada!!!) e dá impressão que num tempo bem remoto correram lá lavas vulcânicas. Mas isto, não impediu e nem impede que tenha as melhoras construções dos Mosteiros - bons prédios, diga-se de passagem! Lá, mesmo no limite com a vila de Igreja fica o cemitério (isto ajuda a entender os versos da morna supracitada). Ainda em Queimada se localiza o Estádio Municipal (de futebol), onde por variadas vezes assisti a espectáculos de futebol entre equipas dos Mosteiros e de S. Filipe, meu concelho de origem. Era um divertimento ímpar em dias desses, com muita paródia à mistura. Um dos grandes investimentos do concelho em termos empresariais fica em frente ao cemitério: a padaria do senhor Ilário, um antigo emigrante nos EUA. O negócio fornece pão e bolacha a todo o concelho, fornecimento esse que é alargado aos outros concelhos da ilha. Na zona de Murro destaca-se a Rádio Mosteiros FM, cujo sustento é todo ele providenciado pelo dono, que é o orgulho de muitos mosteirenses, pois não é todos os dias que alguém se atreve a instalar, custeando na íntegra, uma emissora de rádio. Saliente-se ainda que o antigo e único aeroporto funcional da ilha do Fogo, até a década de 90, se localiza nessa zona. É uma pe
na que tenha sido encerrado, quando depois de vários anos, reabriu o aeroporto de S.Filipe. Na minha modesta opinião faz muita falta ao concelho, visto que havendo muita emigração, particularmente para os EUA, é imperativo que os habitantes tenham um acesso directo ao concelho que os viu nascer. Aliás coisa que outrora tiveram. É claro que me não esqueci de Relvas e Mosteiros-Trás, zonas de muita produção e gente boa, assim como o são Achada Grande, Corvo, Feijoal, enfim...
Ribeira do Ilheu fica nas zonas altas do concelho. Zona verdejante, de um clima ameno, bastante convidativo e próspero em termos de produção agrícola. Atalaia também é tudo isto e está na fronteira entre o concelho dos Mosteiros e o de S. Filipe.
Nunca que ia conseguir referir tudo de bom que há nos Mosteiros, mas a minha ideia genérica fica aqui resumida nestas linhas. Vivi e trabalhei lá durante dois anos e poucos meses e a simpatia do seu povo contaminou-me - num bom sentido - e fez-me sentir integrado num à-vontade que até hoje só me traz alegria e me faz sentir profundamente agradecido pelo acolhimento, pela disponibilidade manifestada e pelo carinho e amizade que sempre recebi. Uma experiência de vida que gostava de poder repetir num futuro bem próximo.

1 comentário:

Oscar N. Gomes disse...

Djan odja ki nho gostan txeu di Musteru... Musteru e sabi propi.
Kontinua...
Kel abrasu la!